quinta-feira, 3 de junho de 2010

Escultura do Renascimento Italiano





A escultura do Renascimento italiano compreende o período aproximado entre fins do século XIV e o início do século XVI, quando a escultura italiana expressou uma reação contra os princípios estéticos do Gótico e, assimilando a influência da arte da Antiguidade clássica, do humanismo e do racionalismo, desenvolveu um estilo que fundiu elementos naturalistas e outros idealistas em proporções variáveis. Depois de ensaios preliminares em Pisa, Siena e outras cidades do centro-norte italiano, o estilo renascentista apareceu nitidamente primeiro em Florença. Alguns autores assinalam o início "oficial" do Renascimento em 1401, data em que foi realizado em Florença um concurso público para a criação das portas em bronze do Batistério de São João; outros apontam 1408, quando foi encomendado a Donatello e Nanni di Banco um grupo de esculturas de santos para a fachada da Basílica de Santa Maria del Fiore. Seja como for, foi a escultura a arte em que primeiro se observou a adoção de uma nova estética, e foi uma das artes mais representativas de todo o Renascimento italiano.

As principais características da escultura renascentista italiana foram a sua definição como uma das formas de aquisição de conhecimento e como um instrumento de educação ética do público, e a sua preocupação de integrar a oposição entre o interesse pela observação direta da Natureza e os conceitos estéticos idealistas desenvolvidos pelo humanismo. Numa época em que o homem foi colocado no centro do universo, sua representação assumiu também um papel central, com a consequência de fazer florescer os gêneros do nu artístico e do retrato, que desde o fim do Império Romano haviam caído no esquecimento. Também foi retomada a temática mitológica, foi estabelecido um corpo de teoria para legitimar e orientar a arte do período, e foi enfatizada a estreita associação entre conhecimento teórico e uma rigorosa disciplina de trabalho prático como a ferramenta indispensável para a criação de uma obra de arte qualificada. A escultura do Renascimento italiano em suas três primeiras fases foi dominada pela influência da escola da Toscana, cujo foco era Florença, então o maior centro cultural italiano e uma referência para todo o continente europeu. A fase final foi conduzida por Roma, na época engajada em um projeto de afirmação da universalidade da autoridade do papado como o herdeiro tanto de São Pedro como do Império Romano.

Para fins práticos este estudo abrange até o ano de 1527, quando depois de uma série de invasões da Itália por espanhóis, franceses e alemães, a cidade de Roma foi brutalmente saqueada pelas tropas do Sacro Império. A mudança de equilíbrio político no panorama europeu que esses eventos deram origem, junto com uma drástica queda no otimismo, no racionalismo e na liberalidade artística que caracterizaram a cultura local, e mais o impacto perturbador da Reforma Protestante na atmosfera religiosa, quebrando a unidade do Cristianismo, justificam limitar naquela data o movimento renascentista italiano, ainda que alguns autores o estendam até o início do século XVII. Mas já é uma opinião corrente entre os estudiosos, consagrada pelos editores da Encyclopaedia Britannica, que esta última fase, cujo reflexo nas artes se chamou de Maneirismo, deve ser descrita de forma independente, por ser em muitos pontos distinta dos valores mais comumente associados com o Renascimento.